2020-2022 / IT - Mântua
Projecto expositivo e curadoria
Cliente: Politecnico di Milano
Autoria: Nuno Graça Moura com Barbara Bogoni
Colaboração: Carlos Castro
Fotografias: Giuseppe Gradella
A exposição dedicada à obra do arquitecto Eduardo Souto de Moura, que se apresenta ao público no Palazzo della Ragione, em Mantova, intitula-se “Architettura sulla storia”, título complexo e sujeito a diversas interpretações.
A natureza é uma construção. A arquitectura, porventura na sua mais bela definição, a de Schinkel, “é a continuação da natureza no seu processo construtivo”. Nesse sentido, todas os lugares e todas as obras têm uma construção e uma história. Daí termos como “centro histórico” ou “cidade histórica” serem imprecisos e não operativos. Todos os projectos intervêm sobre algo construído, para além de convocarem um conjunto de outras referências, que remetem para problemas de outros contextos, programas, épocas, ou até mesmo para a vontade (arbitrária?) dos autores.
Dada a ambiguidade do título desta breve exposição, todas as obras de arquitectura poderiam estar, mesmo que indirectamente, por ele abarcadas. Sugerimos limitar o conjunto de obras expostas a intervenções em edifícios pré-existentes, um possível “tema” dentro da vasta produção do arquitecto. A selecção colectiva dos projectos, sempre parcial e incompleta, abarca oito obras das últimas quatro décadas. Os projectos são apresentados em diversas fases da sua elaboração, procurando sinteticamente esclarecer o método de abordagem de cada um. Ficará claro que para ESM não existe uma forma de intervir numa construção que esteja pré-definida numa carta ou teoria. Os variados conceitos de intervenção, muitas vezes complementares e contraditórios, resumem-se inconscientemente no projecto, dependendo das condicionantes e do autor. O passado (que, de resto, também se inventa), se é um elemento do projecto, sê-lo-á de um modo inconsciente, por forma a que autor não se deixe paralisar. Souto de Moura nunca começa um projecto por estudar a história de um lugar. Procura reconhecer, antes de tudo, a forma de intervir mais adequada aos problemas específicos colocados. A história surge, nas suas palavras, como forma de “confirmação do projecto”, mais do que como um dado operativo adquirido a priori.
Enquanto arquitecto - não sou teórico nem historiador -, é esta uma breve síntese da minha experiência pessoal ao trabalhar com o Eduardo ao longo dos últimos vinte e cinco anos. Acredito que os trabalhos patentes a poderão confirmar.
Porto, Abril de 2022
© Nuno Graça Moura